sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

CORRESPONDÊNCIA No 1

Mon cherre,

Desde daquele nosso último almoço (com direito a rápido adendo) tive a certeza de que poderíamos dar asas a borbulha de nosso encontro que, não podendo ser concreto, físico e coberto de paladar, seria, definitivo, ou melhor, eterno, uma vez que entraria para a história, através de nossas correspondências que permitiriam nelas todo o amor que não soubemos expressar criativamente e o faríamos agora, nas palavras sons e imagens que produziríamos de um e outro para um e outro.

É importante que fique claro que respostas não são exigidas, escrevo essas palavras, nesta correspondência que chamarei de numero 1, porque depois de nosso último encontro vi o quanto teria para falar e que em não podendo, por tanta fraqueza e incompetência de nossos humores, fazê-lo garganta a ouvido direto, o faria, com todo interesse de que sou capaz, dessa maneira virtual como se costuma dizer nos dias de hoje.

Poderei fazê-lo em palavras como também em imagens e som e a única regra na qual manter-me-ei fiel é que essa é a apenas a correspondência numero 1 de uma série que não será pequena.

No segundo momento me veio a birra com relação aos aparatos nos quais poderia me apoiar para tais correspondências. As palavras virtual e digital já não me agradam há um tempo, uma vez que sinto necessidade de ultrapassar esses limites e barreiras obscurecidos pelos nomes de liberdade e democracia. Não que não o sejam de fato, mas ha algo de redutor e fugaz, demais, nesses meios de onde quero desviar meus devaneios.

Tampouco queria eu voltar ao meu velho e fetichizado hábito da pena, ou, mais simples, caneta. Passei parte da vida me utilizando desse recurso enquanto me sentia uma senhorita da idade media escrevendo a pena para seus amores escondidos. Não deixei de amar a pena e o naquim, mas sentia que o amadurecimento dos anos precisava me trazer a algum lugar no meio termo de tudo. Um entre espaços e tempos, onde eu estava querendo alcançar (ou de onde queria saltar).
Foi então em pleno set de filmagem, escutando um mestre falar de seus velhos hábitos ao se corresponder com os entes queridos em sua velha e conhecida máquina de escrever que encontrei a saída. Seria isso, a velha máquina de escrever de meu pai que a herdou de meu avô e que estava repousada em algum antigo armário da casa de meu pai, não tão velha, mas já meu antigo lar, onde vivi até os poucos meses atrás quando construí asas e vim para em minha própria casa.

Ironia ou não, é aqui, na conhecida casa de meu pai, de onde escrevo-lhe essas palavras.

Percebi logo de cara que não é nada fácil, essa tecnologia que nos parece tão rústica é mais sofisticada que meu novo e branco laptop, e requer sapiência, calma e muita sonoridade na cabeça e nos dedos para conseguir executar o feito com a precisão necessária para alcançar a beleza da musica em nossas correspondências.

Pensando em lhe falar me arrebataram, novamente, muitas duvidas, voltei a questionar qual era o sentido de tais correspondências, voltei a pensar se existiria mesmo uma atmosfera, um ar propicio para nossa comunicação, mesmo que “virtual”. Considerando alguns telefonemas não retornados me questionei por muitas vezes se haveria algum eco em minha aproximação tão coberta de amor quanto de respeito profundo pelo objeto e receptor dessas fantasias e, como você pode ler, cheguei a feliz conclusão de que sim, iria escrever!

O caso é que não teria como não fazê-lo, como você me conhece bem, sou teimosa e não sou capaz de olhar com rabo de olho simplicidades tão corriqueiras quanto fantásticas de nossa vida cotidiana e meu encontro com você, meu querido, todo esse ar quente, fervendo de faíscas tão inspiradoras (quanto já foram piradoras) não poderia e nem iria sumir no ar e só me restava transformá-lo nessa serie que inicio com o titulo de correspondência numero 1.

Boa jornada. Termino aqui no começo onde já não somos mais o que fomos e estando prestes a nos tornar tantas coisas as quais desejemo-nos!
Esteja livre para embarcar da maneira como queiras e estarei aqui livre para viajar de todo modo não sonhado.

Termino esse inicio citando você, sem duvida alguma uma das maiores inspirações que cruzaram meus sentidos, obrigado por voar conosco!

Até breve, mon petit cherri.

aurevoir